Quidquid Recordatus: A História das Tunas Ispianas em Imagens

Com o repto dos 60 anos do Ispa, a ActuaTuna vem orgulhosamente celebrar o seu 15º aniversário, ao qual nunca pensou chegar. Antes de si, outras Tunas tinham existido, ainda que brevemente, mas delas pouco se sabia. Assim, nasceu o desejo de trazer aos olhos dos Ispianos um acervo fotográfico do percurso da ActuaTuna e também das Tunas ispianas que nos precederam.

Canção: “Como Será”, Serenata Original ActuaTuna.


Biografia da ActuaTuna
A ActuaTuna – Tuna Universitária do Ispa, foi fundada na noite de 18 de Maio de 2009, durante a Monumental Serenata a Lisboa, no Miradouro de Santa Luzia, por Mariana “Magi” Silva, João “Fiambre” Santos, Filipa “Cavalim” Pacheco e Ana “Kinder” Pereira, que pertenciam ativamente no movimento académico, e se foram juntando para lhe trazer nova vida, de forma a criar um grupo que elevasse o espírito estudantil, através de músicas de intervenção e da sua diversão, representando sempre com orgulho a sua casa, o ISPA.
Para a actuação da fundação, juntaram-se outros membros, tendo assim sido lançadas as primeiras bases para o seu crescimento. Os anos seguintes foram como que os seus primeiros passos: alargar o repertório musical, ensinar candidatos que se juntavam, actuações de rua, de cariz solidário e nos eventos do ISPA – sessões solenes, jantar dos 50 anos – e dos alunos – jantar do Caloiro e do Enterro. No entanto, também os obstáculos fazem parte dos começos: a partida e graduação de membros, poucos interessados no compromisso e dedicação necessária… Uma odisseia de emoções.
No entanto, com quase 6 anos, tiveram a sua primeira participação num Festival de Tunas (Évora, 2015), que lhe foi seguida por mais dois nos meses subsequentes. Nesse momento, por membros mais novos e mais antigos, vivia-se uma felicidade extasiante, mas também um nervoso miudinho pela exigência… Sem dúvida que foi um período de muitos treinos e ensaios, de criação de novas músicas e adaptações, esquemas de estandarte e pandeireta.. Ousaram saber e conquistaram um prémio em cada Festival (dois de Melhor Estandarte e um de Melhor Tuna)!
Os anos passaram e pela ActuaTuna passou uma pandemia, que a obrigou a reinventar-se, tendo criado uma nova serenata original (Como Será); várias atuações em Encontros e Festivais de Tunas (e mais uns prémios); marcando presença em eventos do ISPA, como o seu 60º aniversário, onde estreou o seu original “Ousar Saber”; retiros, uma “Tour” e vários afters de Festivais de outras Tunas, vividos intensamente, sempre com muita música, diversão e companheirismo.
A nossa cultura foi-se construindo e readaptando, derivado dos obstáculos e imprevistos, mas sem dúvida procurando actualizar-se progressivamente, num balanço entre inspirar-se do percurso do passado, das histórias e das origens; através da criação, originalidade e espírito de abertura. Tudo isto levando na nossa companhia um belo Garrafão (de água, porque as vozes precisam de hidratação)!
Em 2023, inovou-se através da realização dos primeiros eventos da ActuaTuna, nomeadamente um rally-tascas por Alfama (com a participação de alunos ispianos e tunantes de outras Tunas) e um Encontro de Tunas – I Fado Marinheiro, realizado em parceria com a Nautituna, Tuna da Escola Infante D. Henrique, em Paço D’Arcos.
Neste ano letivo 2023/24, a ActuaTuna participou no III Animus – Festival de Tunas da Juristuna, em Campolide, onde estreou duas novas adaptações e arrebatou, fruto do sangue e suor dos seus membros integrantes, os prémios de Melhor Estandarte e Melhor Pandeireta. E, assim, ao olhar para trás, passaram-se 15 anos, sempre levados para diante pela ideia de ousamos chegar mais alto, mais longe! Para celebrar este marco, a ActuaTuna quis realizar esta exposição, de forma a honrar a história dos tunantes ispianos que passaram por esta casa. Tal como nós, todas as Tunas se foram construindo e desenvolvendo, levando a música como instrumento de aprendizagem de dinâmicas interpessoais, capacidade de resiliência e mudança pessoal. Mais ainda, desafiámo-nos a criar o nosso primeiro evento em nome próprio: “Alfama à Luz das Velas” – a I Noite de Serenatas (Auditório Armando de Castro, do Ispa); e esperamos, em Outubro de 2024, trazer o primeiro Festival de Tunas organizado por nós – “Quidquid”! É um orgulho para nós podermos possibilitar o encontro entre gerações de ispianos e tunantes, todos tendo, no seu percurso, pisando palcos em representação do Ispa – a quem queremos profundamente agradecer por terem embarcado connosco nesta aventura e que nos prestaram todo o apoio para tornar real esta exposição e, também, para a realização do primeiro videoclipe o do original “Ousar Saber”!


A História da PsicoTuna: Uma Melodia de Tradição e Comunidade no ISPA
“Em finais de 1992, o ISPA, na altura, Instituto Superior de Psicologia Aplicada, em Lisboa, vivenciava o pulsar típico da vida académica, repleto de praxes e convívios que uniam os estudantes. No entanto, faltava uma expressão mais profunda de identidade cultural que outras universidades portuguesas ostentavam orgulhosamente através das suas Tunas. Foi neste cenário que duas colegas recém-chegadas ao ISPA, Helena e Laura, decidiram mudar o panorama cultural da instituição.
Ambas entusiastas da música e com experiências anteriores em grupos corais e bandas, sentiram a falta de um espaço onde pudessem explorar as suas paixões pela música e pela cultura académica. Movidas pelo desejo de criar algo que deixasse uma marca no ISPA, propuseram a criação de uma Tuna e deixaram o repto a quem partilhasse do mesmo espírito e vontade de conexão. E assim, nascia a “PsicoTuna”. O nome “PsicoTuna” foi escolhido para refletir não apenas a área de estudo – a Psicologia – mas também para simbolizar a intenção de explorar as nuances emocionais e humanas através da música. Começou por ser uma Tuna feminina, mantendo sempre esta identidade, ainda que outros colegas tivessem sempre acompanhado o seu percurso, tanto nos ensaios como nas diversas atuações e convívios. Aliás, o porta-estandarte chegou a ser um elemento masculino, que avidamente desejava fazer parte desta família. Com o apoio entusiástico de outros estudantes, a Psicotuna começou a tomar forma, reunindo um grupo inicial de 12 membros, incluindo instrumentistas amadores e entusiastas da música.
Nos primeiros anos, a PsicoTuna enfrentou diversos desafios, desde a falta de recursos até à necessidade de estabelecer uma reputação dentro e fora do ISPA. Através de muita dedicação e ensaios após as aulas, o grupo começou a desenvolver um repertório que incluía tanto músicas tradicionais portuguesas quanto esboços de composições originais que falavam das experiências dos estudantes de psicologia. Começou por fazer os ensaios no então ginásio do ISPA, mas, com o início das obras de reestruturação do edifício, obrigou a encontrar uma outra solução para os ensaios, que vieram a acontecer num edifício que ficava em frente ao ISPA, junto ao Rio Tejo. Com o passar dos anos, a PsicoTuna tornou-se mais do que um grupo musical; transformou-se num veículo para o fortalecimento de laços entre estudantes e a comunidade académica mais ampla. As viagens para participar em encontros de tunas e semanas académicas pelo país, tornaram-se uma parte essencial da vida na PsicoTuna, assim como a sua participação em eventos de solidariedade e programas de televisão.
Através da música, a PsicoTuna ajudou a moldar uma identidade coletiva para os estudantes do ISPA, criando um sentido de pertença e orgulho. A Tuna também se tornou um importante meio de transmissão de valores como cooperação, respeito mútuo e paixão pela psicologia e pela vida.
Após a fundação em 1992, a PsicoTuna não só enraizou a tradição musical no ISPA, mas também preparou o terreno para um desenvolvimento mais amplo das tradições académicas na instituição. Em 1997, um ponto de inflexão crucial foi atingido. Com a graduação de muitos dos membros fundadores, a continuidade da Psicotuna enfrentou um desafio significativo. No entanto, a semente que haviam plantado provou ser resiliente e frutífera.
A saída dos membros graduados poderia ter significado o fim da PsicoTuna, mas, ao invés disso, serviu como um catalisador para o surgimento de novas tunas dentro do ISPA. A paixão e o espírito que a PsicoTuna havia incutido na comunidade académica inspiraram os estudantes mais novos a continuar o legado. Estes estudantes, movidos pelo mesmo desejo de expressão musical e camaradagem, formaram novas Tunas, cada uma com a sua própria identidade, mas todas carregando a essência do que a PsicoTuna tinha iniciado.
A criação dessas novas Tunas marcou um novo capítulo para o ISPA. Com a diversificação dos grupos musicais, o espírito académico no ISPA tornou-se mais vibrante e visível. Cada Tuna que surgia trazia novas ideias e energias, mas todas partilhavam o compromisso de fortalecer a vida académica e cultural da instituição. A influência da PsicoTuna estendeu-se muito além da música; ela estimulou uma mudança cultural dentro do ISPA. O envolvimento dos estudantes em Tunas, proporcionou uma plataforma para o desenvolvimento de habilidades interpessoais, liderança e gestão de equipa. Mais importante ainda, reforçou um sentido de comunidade e pertença entre os alunos, elementos essenciais para um ambiente académico saudável e estimulante.
A PsicoTuna, e as Tunas que lhe sucederam, tornaram-se um aspecto integral da identidade do ISPA, mostrando como a música pode transcender notas e partituras para se tornar um pilar de tradição, educação e crescimento pessoal. Esses grupos continuam a ser uma prova viva de como uma iniciativa estudantil pode deixar um legado duradouro, influenciando gerações de estudantes e moldando a cultura de uma instituição.

Saudações ISPIANAS.”

Laura Pimpão
Magister da PsicoTuna (1992-96)


Ser tunante é sentir um vínculo único com a história e a cultura universitária. A tuna não é apenas um grupo musical; é uma família que valoriza a tradição e a amizade. Cada ensaio, cada apresentação é uma celebração do espírito acadêmico que nos une. Falar do coração académico envolve contar a história que nos precedeu. Esta secção relata um pouco sobre as nossas antecessoras, iniciando com os depoimentos de membros atuais e antigos sobre o que significa ser tunante.

Tuna Masculina do ISPA
“Iniciava-se o ano lectivo 1996/97. O ISPA tinha sido renovado, passávamos a ter um bar de meter inveja a muitas universidades, uma biblioteca fantástica, uma Sala de Actos como deve ser, mármore com fartura, todo um novo ambiente. Mas, mais um ano passado, ainda não tínhamos Tuna masculina: entrei no ISPA em 1994/95, sonhava em integrar uma Tuna desde sempre, fui logo à Associação de Estudantes perguntar pela Tuna e disseram-me que “havia uma Tuna mista no ano lectivo passado, mas já não existe”. Afixei um “cartaz” a apelar a potenciais interessados, que consultava com frequência, mas nada.
O mesmo no ano lectivo seguinte, com renovada esperança, porque assistia ao desenvolvimento da PsicoTuna enquanto Tuna feminina, mas, mais uma vez, nada. Eis que no tal ano lectivo 1996/97 entra uma geração fantástica, cheia de dinamismo, a vários níveis. E qual não foi a minha (muito agradável) surpresa quando vejo um “cartaz” apelando a potenciais interessados em formar uma Tuna masculina, marcando dia e hora na nova Sala de Actos. Obviamente, lá estava eu e, felizmente, mais cerca de 20 alunos do ISPA, incluindo o que viria a tornar-se meu irmão de alma, o autêntico motor Bruno Brito, o tal que afixou o cartaz que nos juntou e com quem viria a ter caminhos muitos próximos, até passar a ser um motor entre os anjos.
Verdade seja dita, ninguém sabia muito de Tunas. Havia muita vontade, muitas ideias, a par de escassa competência musical e falta de recursos, a começar pelos próprios instrumentos musicais. A outra verdade é que conseguimos fundar a Tuna Masculina do ISPA, com apoio da Direcção à época, a começar pelo Dr. Pedro Almeida. Fomos aprendendo pelo caminho, organizámos um Festival de Tunas, o I Boémio, com a PsicoTuna e com a IPATUNA – Tuna do Instituto Politécnico Autónomo (grande inspiração para os nossos primeiros passos!), escrevemos originais (um deles, “O Garrafão”, que ainda se ouve por Alfama, escrito por outro ilustre elemento, excelente voz, cortante sentido de humor, Bruno Inglês), tivémos momentos épicos em Beja, a convite do ISPA Beja, formalizámos uma irmanação, em Faro, com a Real Tuna Infantina – Tuna Académica Mista da Universidade do Algarve, sempre, acredito, com a dignidade que se impunha enquanto representantes da comunidade de alunos do ISPA, da instituição ISPA e do traje académico.
Felizmente, parece que foram ficando algumas bases para um percurso que já vai longo, esperando que continue a ser uma oportunidade para outros viverem momentos tão felizes e inesquecíveis como os que nós vivemos.

Até sempre!”

Pedro “Maestro” Carmona
Magister da Tuna Masculina do ISPA


Boémia – Tuna Académica do ISPA
“Nunca quis pertencer a uma tuna. Juro!
É (ou era) a verdade, pelo menos até certo ponto da minha vida. Mas nunca pensei activamente sobre isso, e sempre que o fiz, penso que até senti alguma superioridade moral “lá vão aqueles parvos, trajados e a cantar!”. Talvez por isso sempre me divertiu, anos mais tarde, no ISPA e não só, sentir esse tipo de olhar e pensar para mim mesmo que eram “eles” quem não sabia o verdadeiro segredo.
Sou de um tempo em que andar trajado no ISPA não era habitual, muito menos fundar tunas ou dar qualquer tipo de avanço a essa parte da vida de estudante. Não que faltasse entretenimento, antes pelo contrário, isso nunca foi escasso e ainda hoje em dia me sinto grato por cada uma daquelas festas – simplesmente não existia a cultura do traje, que lentamente foi aparecendo e sendo visto, por insistência de algumas pessoas, que teimavam em andar com calor no verão e mais que bem agasalhadas no inverno. Faço este enquadramento, não porque as coisas antes fossem más e depois é que eram boas, mas sim para que fique claro: o que aconteceu com a Boémia foi ser parte de um momento, de uma ideia, uma forma de sentir os anos passar, naquilo que era para tantos quase a segunda casa.
Não inventámos absolutamente nada, creio eu, a não ser que fossem brindes – sempre fomos bons a brindar. Fora de gozo, não inventámos as tunas no ISPA, nem sequer fomos provavelmente a que melhor qualidade apresentou (desde que não digam que fomos a pior, está tudo bem). Crescemos de uma ideia que já existia na cabeça de um (ou dois) fundadores, que tiveram o bom senso de abordar os restantes na perspectiva simples de: “Isto é para tocar e para curtir!”. E assim, como quem vê uma multidão a dançar a “Macarena”, a coisa pegou fogo.
Quem nunca tocou uma actuação em cima de uma mesa, em pleno jantar do Caloiro, não sabe o que é o verdadeiro amor e paixão – e eu, felizmente, como mais alguns que estiveram e estão em tunas no ISPA, sei o que é tocar para uma sala como o Coliseu, cheio. Garanto, um jantar do Caloiro, em cima da mesa, com TODA GENTE aos gritos – é irrepetível.
Mentia se dissesse que na altura pensámos sobre a forma como fazíamos parte de algo maior, de uma fase com história numa instituição que tem tanta, com tanta leveza e volatilidade – não o fizemos. Levámos tudo o que pudemos levar a sério, com gravidade e sentido de importância, cada gravação e actuação, cada acorde tocado em ensaios no bar, numa sala que perturbava aulas ou em cada ENEI. Se houver fotos, podem ver em cada uma delas, o orgulho e irreverência de quem acha que reinventou a roda, os 15 minutos de fama, a amizade que coseu mais buracos e rasgões que cada capa aguentava ter.
Entre sorrisos e lágrimas, sem saber ainda que nada dura para sempre, tentámos levar a quem nos quisesse ouvir, a palavra de um tuno, que teve a felicidade de estudar no ISPA e lá crescer, com tudo o que isso tinha direito. Uma carta de amor e aventura ao tempo.
A vida seguiu, e essa armadilha do tempo nunca ajudou quase ninguém. Este texto é só a minha reflexão sobre um pouco do que aconteceu, por isso, sei hoje que tudo o que seguiu na minha vida, onde fui em termos de tuna e para onde fui, era algo que queria de facto. Mais, Maior e Abrangente – a verdade é que nunca se deixa de ser tuno, e foi fora do ISPA que senti este apelo, na Estudantina Universitária de Lisboa.
Nunca quis pertencer a uma tuna. Juro!
Se tudo isto podia ter acontecido, sem a Boémia – Tuna Académica do ISPA? Nem pensar, devo-lhe todo este Big Bang. Porquê Boémia? Bem, porque não? Alguém acha que nos divertimos pouco? É ver as fotos e imaginar as coisas que ficaram por contar. Quem tiver questões, é perguntar à menina lá atrás.”


P’la Boémia – Tuna Académica do ISPA,


Gonçalo Mendonça
Magister

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