A retina dos nossos olhos recolhe quantidades imensuráveis de informação diariamente. No entanto, “a coisa à qual prestamos atenção é realmente a única que entra no nosso sistema”. Assim explica o Professor Jan Theeuwes, membro convidado do William James Center for Research do Ispa, o que é a seleção atentiva. “Quando abrimos os olhos pensamos que vemos tudo, mas é quando direcionamos a atenção para algo que essa coisa se fixa no cérebro e começa mesmo a influenciar-nos”.
O professor da Vrije Universiteit e diretor de Psicologia Experimental e Aplicada no Institute for Brain and Behavior Amsterdam exemplifica: “isto é comparável a fazer movimentos com os olhos. Se olharem para mim, podem direcionar a atenção para algo à minha volta, dentro do campo visual. No entanto, se eu fizer isto” – levantando subitamente o braço esquerdo – “reagiriam rapidamente. Aquilo em que atentamos é o que realmente ‘perfura’ o nosso sistema. É um conceito algo complexo, mas relaciona-se com o movimento ocular: normalmente o nosso cérebro direciona a atenção e os nossos olhos seguem”.
Jan Theeuwes demorou a encontrar o seu caminho na área da Psicologia. Começou por se formar em engenharia. Contudo, “ainda estava a tentar encontrar-me, e pensei ‘Porque não tentar psicologia?’ No início, pensava ir para a área de Clínica para curar pessoas, mas, no primeiro ano, descobri a psicologia experimental. Achei aquilo tão fascinante que fiquei cativado. Soube aí que era o que queria fazer para o resto da minha vida”. Diz que o facto de se ter formado em engenharia “ajudou com o lado mais estruturado e racional da investigação”. Trabalhou 12 anos num laboratório de investigação aplicada, onde havia cerca de 150 cientistas, “metade engenheiros e metade psicólogos – sendo um híbrido dos dois, ajudou-me bastante naquele ambiente”.
Foi assim que começou a trabalhar em comportamento de condução e na melhoria do ambiente rodoviário, para que as pessoas não cometam erros em viagem. “A minha investigação fundamental recai sobre a seleção de informação: as regularidades que o nosso cérebro capta para conseguir fazer previsões e utilizar essa capacidade para uma otimização da seleção de informação do ambiente. Isto pode ser aplicado de várias formas; eu especializei-me em segurança rodoviária”, explica. O também consultor do Departamento de Transportes dos Países Baixos lembra a sua primeira ligação ao nosso país: “nos anos 90, Portugal era dos países europeus com maior taxa de mortalidade rodoviária. Jorge Santos, então professor na Universidade do Minho, começou a convidar palestrantes do centro e norte da Europa para falar sobre segurança rodoviária – incluindo-me entre os escolhidos, cheguei mesmo a falar com o governo”. Em suma, diz Theeuwes, “em contexto de condução devemos olhar para o sítio certo na altura exata. Seja uma saída, um cruzamento, um pedestre a atravessar: esta relação entre o que queremos selecionar e o que está a acontecer em nosso redor é crucial”.
O seu trabalho deu um passo notável recentemente: foi publicado pela Cambridge University Press. Na altura, “não me apercebi bem da magnitude do número de palavras que me pediram. Levou-me um ano a mais do que tinha acordado e acabou por ser um livro bastante volumoso. O melhor aspeto foi poder ter sumarizado o meu trabalho dos últimos 25 anos. Espero que os jovens investigadores peguem nele”.
De momento, Jan Theeuwes tem “um financiamento europeu para os próximos três anos em aprendizagem e seleção; o que gosto mesmo nesta interseção é a aprendizagem estatística na perceção: aprendermos coisas regulares e implícitas no nosso ambiente, às quais nos adaptamos para otimizar o nosso comportamento. Acredito que isto será um mecanismo de extrema influência no futuro da psicologia porque afeta a aquisição de linguagem, o comportamento social, as emoções, provavelmente contextos clínicos também, e até a aprendizagem motora de desportos. Quero fazer esta história maior do que dou a parecer aqui”.