Nuno Torres, investigador do William James Center for Research do Ispa, publicou um estudo que faz a ligação entre a produção da hormona oxitocina com o brincar com os pais e a integração das crianças no pré-escolar.
Este trabalho, sumariza, “pode permitir desenhar melhores práticas educativas, mais harmoniosas e que estimulem a saúde global – desde a mental, à física e ao sistema imunitário”. Nuno Torres afirma que “é muito importante que o brincar seja satisfatório e que se divirtam, porque é aquilo que as crianças fazem espontaneamente. Estão na idade de exercitar as suas capacidades através de jogos e brincadeiras e, se houver essa interação satisfatória e emocionalmente positiva no brincar entre pais e filhos, vai ser produzida mais oxitocina – e, quanto mais estiver presente, aparentemente a criança estará mais bem-adaptada em termos comportamentais na escola”.
Porquê esta hormona em concreto? O investigador explica que “se sabe de antemão que é muito importante no funcionamento social e emocional. Estuda-se, atualmente, a possibilidade de usar essa mesma hormona para ajudar em problemas comportamentais e emocionais, tanto em crianças como em adultos”. Adianta ainda que, no caso deste estudo em particular, “verificámos que a situação de brincar com os pais gera uma quantidade mais fiável de oxitocina do que numa situação de rotina”. Esta é uma hormona, como esclarece, que “responde às interações e ao estado emocional – se estivermos numa situação de prazer ou stress reagirá de uma forma, mas se estivermos em repouso numa situação de rotina não emocional terá níveis diferentes”. Uma última vantagem é a de ser “relativamente fácil de medir através da saliva; tem alguma estabilidade se for congelada e não implica métodos muito complexos e invasivos”.
A área de estudo em que se insere este trabalho, neuropsicoendocrinologia, “é uma disciplina relativamente recente, que começa a aparecer mais ou menos nos anos 90, com a descoberta de neurohormonas e neuropeptídeos que ligam tanto ao sistema endócrino, como ao sistema nervoso e também ao sistema imunitário; ao descobrir-se essa comunicação direta entre os três sistemas, surge a disciplina – mas é uma comunicação descentralizada, esta que acontece entre os sistemas nervoso, endócrino (hormonal), imunitário e as cognições, pensamentos e emoções que temos”.
O interesse de Nuno Torres por esta área tão complexa “vem do meu trabalho anterior em doutoramento, que fazia já a ligação entre a psicologia e a biologia – não com medições biológicas, apenas psicológicas, mas com populações clínicas. Este projeto permitiu-me avançar porque pudemos passar para avaliações biológicas diretas de oxitocina”.
Num futuro próximo “estamos a pensar fazer com mais crianças e também avaliar os níveis de oxitocina dos pais, para nos permitir perceber melhor o processo de interação psicológico, biológico e social nos dois elementos, pais e criança”. Este tipo de trabalhos, remata Nuno Torres, é “importante porque nos permite compreender o ser humano de uma maneira mais completa e ver as implicações das emoções, e dos tipos de interações sociais, na própria saúde física e em problemas clínicos comportamentais”.
A restante equipa do Ispa neste projeto inclui os professores Manuela Veríssimo e António José dos Santos. Financiado em grande parte pela Fundação BIAL, este trabalho contou com colaborações de cientistas da Washington State University, do King’s College London, NHS Trust, Auburn University e ainda do ISCTE-IUL.
O artigo pode ser consultado em https://doi.org/10.1016/j.psyneuen.2021.105609